É preciso viver o lugar

Vivenciar não é preciso; registrar é preciso. Essa é a idéia que parece dominar o cotidiano das pessoas no atual momento da informação. Assim, os nossos olhos parecem obsoletos frente às telas digitais das máquinas fotográficas e dos celulares disseminados por todas as classes sociais. O mesmo ocorre com a nossa memória, cada vez mais em desuso e substituída por cartões de memória digitais. Da restrita circulação dos ultrapassados álbuns de fotografia, passamos rapidamente para a proliferação de informações produzidas de forma cada vez mais dispersa, de modo que as nossas experiências podem ser compartilhadas com mais pessoas, sejam elas conhecidas ou completamente estranhas. Certamente, você já teve a vista atrapalhada por alguém tentando registrar algo que você insiste em ver apenas com os olhos. Não se trata aqui de condenar os recursos visuais, longe disso. Ao contrário, pretende-se conferir importância ao olhar, como forma também de refletir sobre o registro de uma determinada experiência, de brincar com as imagens junto com as nossas sensações. Se o lugar e a experiência são banalizados, banal será também a imagem. Na primeira vez que visito um lugar, evito levar a máquina fotográfica. No atual momento em que todos somos constantemente vigiados, o fato de não registrar algum acontecimento que, há pouco tempo atrás, bastaria a oralidade para contar, é um ato tido como lamentável. De amantes do mundo a cinegrafistas amadores, o lugar vai perdendo o sentido de ser.

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Mais um tempo de ausência e mais uma promessa de voltar por aqui semanalmente, assim como eu gostaria de ter feito.