O emaranhar dos lugares

O cruzamento dos fios denuncia o emaranhar dos lugares que, cada vez mais, estão conectados uns aos outros. O apertar do interruptor de luz é capaz de gerar impactos em lugares longínquos. A energia elétrica permite acessar outros lugares por meio da televisão e do computador. As palavras deste blog perdem-se na imensidão de uma rede de computadores e podem ser lidas em diferentes partes do mundo. Os mais diversos fluxos de pessoas, mercadorias, dinheiro, enfim, formam redes articuladas, verdadeiras constelações de pontos ligados entre si, numa teia global de ações humanas. Contudo, há lugares onde estas redes insistem em não chegar. No Brasil, mesmo no estado mais rico da federação, São Paulo, há pedaços do território desprovidos de energia elétrica, estradas, telefone, saneamento básico, educação, ou seja, lugares desligados do mundo, espaços opacos. Nestes lugares, onde os fios que se cruzam são apenas os de varais, vive uma população bem maior do que a da cidade de São Paulo. Apenas os que não têm luz em casa somam mais de 12 milhões de brasileiros, segundo o IBGE (2000). É evidente, portanto, que a tal globalização inclui lugares selecionados enquanto exclui perversamente os demais. Enquanto isso, uma outra rede, a dos excluídos, vai sendo arquitetada a partir dos interstícios e, com ela, nasce uma outra globalização fundamentada na força dos lugares marginalizados.