Deserto verde

Cada vez mais lugares são invadidos pelo processo de desertificação verde causado pela insensatez das compulsivas exportações de commodities a preços módicos. As culturas de cana-de-açúcar e eucalipto são os principais emblemas da violência do poder privado no campo brasileiro, pois, além de causarem diversos desastres naturais, estas plantações, em especial a de cana, abrigam a maior parte do trabalho escravo no país, segundo recente pesquisa da Comissão Pastoral da Terra. Enquanto isso, a produção de etanol é comemorada pelo Estado brasileiro como um grande avanço no sentido de proporcionar a fabricação de biocombustíveis menos poluentes e socialmente mais justos. O discurso é construído para justificar o avanço irresponsável da cana-de-açúcar sobre os solos mais férteis do país, como a terra roxa, e, também, em direção aos resquícios dos biomas ainda conservados do país. O mesmo ocorre com as plantações de eucalipto, que devastam as florestas tropicais e apropriam-se de extensas áreas, impossibilitando a diversidade de outras formas de vida nestes ambientes. Incentiva-se a produção de etanol para movimentar as insustentáveis frotas de veículos particulares que tornam a vida nas grandes cidades quase impraticável. Em suma, as ações hegemônicas engendradas nos grandes centros urbanos determinam os usos que ocorrem no espaço agrário brasileiro e, assim, os lugares são produzidos sob uma lógica imposta, alheia à principal finalidade da terra como celeiro da vida, marginalizando, portanto, aqueles que insistem em produzir o alimento que chega às nossas mesas.

Foto: Roberto Vinicius

Trabalhadores rurais manifestam o seu descontentamento com relação ao avanço gradual das plantações de eucalipto que se apropriam das áreas que seriam melhor aproveitadas para a produção de alimentos. Esta cultura é responsável por dizimar a biodiversidade das áreas antes florestadas e recebe, absurdamente, a denominação de "reflorestamento".