Gentrificação

Foto: Thomas Hobbs
O que faz um edifício ser condenado ao abandono numa cidade onde faltam habitações para uma enorme e crescente parcela da população? O centro velho de São Paulo, onde está localizado este prédio, é o destino da gente que foi despejada nas periferias da cidade e que enfrenta 4 ou mais horas a bordo de um péssimo e caro transporte público para chegar ao trabalho. Além de distantes, estas periferias estão localizadas nas terras desinteressantes para o mercado imobiliário, isto é, nas planícies de inundação de rios que sofrem com sucessivos alagamentos ou em vertentes sujeitas a intensos processos erosivos. Enquanto isso, prédios desocupados povoam a paisagem do centro urbano e o Estado lança mão de políticas públicas de "revitalização", impedindo os empobrecidos de ocuparem estes edifícios e incentivando a instalação de grandes empresas e objetos de luxo no lugar. Pontes estaiadas, túneis e viadutos são construídos para dar fluidez aos carros ao passo que o transporte público, aquele mesmo que cumpre a função de levar a gente das periferias para o centro, torna-se cada vez mais lento. Está instalada, portanto, a política da gentrificação - aquela onde as pessoas são expulsas das áreas centrais em prol do capital privado - e os engarrafamentos dos carros surgem como tema novo quando, na verdade, os empobrecidos das periferias sofrem há décadas com a perversidade dos que planejam a cidade exclusivamente para atender aos interesses dos agentes sociais hegemônicos.