Ouvidos urbanos

foto: rtomazela

Eu pedi aos falantes alunos da oitava série que ficassem em silêncio por apenas um minuto. Do alto da Pedra Grande, no Parque da Cantareira, a paisagem da cidade de São Paulo perdia-se no horizonte. Estávamos ali, eu e os alunos, calados, sentados sob uma rocha granítica e rodeados pela mata atlântica. Uns olhavam desesperadamente o relógio, outros estavam com os olhos fechados quando, enfim, o minuto acabou. Então, o que vocês ouviram, perguntei a eles. A resposta da maioria foi enfática: nada!

O cantar dos pássaros, o sopro do vento chacoalhando as árvores não eram audíveis para a maioria dos alunos acostumada a perceber cotidianamente o barulho da cidade. Contei-lhes que era possível, inclusive, ouvir o ecoar distante da cidade, algo parecido com o som de uma geladeira, fruto da mistura dos barulhos urbanos. Curiosos, desta vez foram os alunos que tomaram a iniciativa da mudez. Ficaram ali, olhando fixamente a cidade, ouvindo sons roubados tão cedo e devolvidos por alguns instantes em outro lugar.

foto: thi prud